(Dr.ª Collen Stump; Abril de 2008)
Já alguém da escola do seu
filho(a) lhe disse que seria melhor que ele/ ela repetisse o ano?
Tem estado a pensar se o seu
filho(a) deveria ou não transitar/passar para o ano seguinte?
Tomar a decisão se uma criança deverá passar, ou não,
de ano, é uma tarefa muito difícil, pois esta tem um grande peso emocional.
Quais são as razões que levam uma criança a
ter necessidade de repetir o ano lectivo?
Este situação ocorre quando nos deparamos com uma
criança com dificuldades na aprendizagem da leitura, da escrita e/ou da
matemática; isto é, quando não consegue alcançar os níveis de rendimento
esperados para transitar de ano, ou quando apresenta uma grande imaturidade
face à sua idade.
Quais são os resultados obtidos após uma
retenção no mesmo nível escolar?
A retenção de uma criança, no mesmo nível escolar, tem
como objectivo dar-lhe a possibilidade de desenvolver as capacidades
necessárias para a aprendizagem.
No entanto, as investigações realizadas indicam que o
facto de a criança ficar retida no mesmo ano lectivo não tem benefícios.
Um dos artigos publicados pela NASP, National
Association School Psychologies, refere que:
· Os
resultados académicos das crianças que repetem o ano são inferiores aos
resultados obtidos pelas crianças que transitam;
· Os
aspectos negativos, associados à repetição do ano lectivo, desaparecem depois
de 2 a 3 anos após a conclusão da repetição do ano;
· As
crianças identificadas com capacidades desajustadas, são as que mais se
prejudicam quando repetem o ano.
· O
facto de uma criança repetir o ano, leva ao aumento dos problemas de
comportamento;
· A
repetição do ano tem um efeito negativo sobre todas as áreas de aprendizagem
(linguagem, leitura e matemática), assim como, de adaptação socio-emocional, ou
seja, dificuldades na relação com o grupo de pares, baixa auto-estima e
problemas de comportamento.
· As
crianças que ficam retidas no mesmo ano, quando comparadas com as que
transitam, têm mais probabilidades de abandonar a escola precocemente. A
repetição do ano é considerada como um dos factores preditivos mais fortes,
relacionados com o abandono da escola, no nível secundário.
· Os
estudantes que repetem o ano têm mais probabilidades de obter resultados
negativos, quer ao nível escolar e profissional, durante as ultimas etapas da
adolescência e no princípio da vida adulta;
· É
possível que a não retenção no mesmo ano lectivo traga mais aspectos positivos,
quando os alunos não são simplesmente retidos no mesmo ano, mas quando ao
passar de ano lhes são dadas recomendações específicas para solucionar os seus
problemas, quer ao nível dos resultados académicos, do comportamento e das
relações sociais.
As crianças com dificuldades de aprendizagem
Muitas das crianças com dificuldades de aprendizagem,
encontram um obstáculo perante a realização dos testes de avaliação, pois estes
requerem dos alunos uma concentração prolongada, que trabalhem de forma
independente e dentro de um limite específico de tempo. Uma outra dificuldade
encontrada por estes alunos, é a questão do entendimento das questões colocadas
nos testes. Assim, os resultados das provas não revelam aquilo que o aluno
sabe, ou pode saber. Quando os resultados dos testes são a única forma de
avaliar, os alunos com dificuldade de aprendizagem, ficam em desvantagem.
Mas, como é que podemos saber se a decisão de reter
uma criança no mesmo ano é a mais correcta?
Para responder a esta questão devemos analisar as
seguintes questões:
·
Em que áreas é que a criança possui mais dificuldades?
– leitura, escrita, matemática, ciências, estudo do meio, nas relações sociais
ou outras? Tem dificuldades em apenas uma área ou em todas?
·
Existem profissionais competentes que possam ajudar a
criança, ao longo do ano lectivo, a colmatar as dificuldades de aprendizagem?
· O
que funcionou bem e ajudou a criança a aprender? O que funcionou mal e não
ajudou a criança a aprender?
· Se
a criança repetir o ano, que tipo de apoio terá nas áreas que revela mais
dificuldades? Utilizar-se-á um novo método de ensino, materiais diferentes, ou
o professor utilizará as mesmas técnicas que o ano anterior? Como vamos saber
se a criança ao passar pelo mesmo processo, irá melhorar as suas competências?
· Que
tipo de rendimento académico estamos à espera que a criança obtenha no próximo
ano lectivo? Com que tipo de melhorias ficaríamos satisfeitos com a repetição
do ano?
· Estatisticamente
a criança poderá alcançar os objectivos requeridos para transitar o ano
seguinte? Que tipo de resultados devemos esperar num ano? Serão suficientes
para que valha a pena repetir o ano?
Devemos ainda analisar as questões sociais e
emocionais:
· O
problema encontra-se no comportamento da criança?
· Como
se sentirá a criança se ficar retida no mesmo ano? Será que ficará motivada e
interessada em aprender, ou se sentirá envergonhada?
· O
que acontecerá em relação ao apoio dos amigos e companheiros de turma? Como os
afectará a situação da repetição do ano?
Alternativas à retenção da criança
Nos artigos publicados pela NASP, National Association
School Psychologies, é sugerido a realização de intervenções específicas que
permitam diminuir o risco de os alunos fracassarem.
Algumas questões que devem ser respondidas, para
encontrar alternativas:
· Os
pais e professores já tiveram a iniciativa de trabalhar em conjunto com o
objectivo de identificar e intervir nas problemáticas a fim de melhorar o
desempenho da criança?
· A
criança recebe apoio extra? Têm ajuda individual ou em pequenos grupos que lhe
permita adquirir novos conhecimentos e completar as tarefas?
· Se
a criança recebe apoio especial, os objectivos do PEI (Plano Educativo
Individual) coincidem com os estabelecidos pela escola que frequenta? Se não, o
PEI deverá ser revisto para assim possibilitar a transição do ano.
· Que
tipo de materiais de estudo e métodos são utilizados pelos professores? Será
que são indicados para a criança?
· A
criança poderá beneficiar de tutoria e apoio individual?
· Existem
opções disponíveis, tais como escolas de verão, prolongamento do horário
escolar?
· A
criança é resistente ao apoio prestado pelos técnicos? Então, é necessário
encontrar alternativas, propondo a ajuda de um irmão mais velho ou de outro
aluno, de um nível de ensino superior ao seu.
· A
criança participa em actividades extracurriculares, tais como futebol, dança,
música, visitas de estudo, entre outras, que lhe permita estar com os amigos e
simultaneamente motivá-la a melhorar o seu rendimento escolar?
Panorama Geral
Antes de tomar a decisão de uma criança ficar retida
no mesmo ano escolar, é importante responder às questões anteriores;
É ainda importante que pais e professores, perante
esta situação leiam vários artigos sobre o tema, falem com a própria criança,
discutam entre todos o assunto em questão.
Qualquer que seja a
decisão é imprescindível que pais e professores estejam atentos ao rendimento
escolar e ao comportamento da criança, durante o ano lectivo seguinte,
possibilitando um diálogo aberto, o que permite acompanhar o processo de
aprendizagem da criança nos vários contextos, casa e escola.
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