sábado, 1 de outubro de 2016

Vantagens e desvantagens da Reprovação


(Dr.ª Collen Stump; Abril de 2008)
Já alguém da escola do seu filho(a) lhe disse que seria melhor que ele/ ela repetisse o ano?
Tem estado a pensar se o seu filho(a) deveria ou não transitar/passar para o ano seguinte?
Tomar a decisão se uma criança deverá passar, ou não, de ano, é uma tarefa muito difícil, pois esta tem um grande peso emocional.
 Quais são as razões que levam uma criança a ter necessidade de repetir o ano lectivo?
Este situação ocorre quando nos deparamos com uma criança com dificuldades na aprendizagem da leitura, da escrita e/ou da matemática; isto é, quando não consegue alcançar os níveis de rendimento esperados para transitar de ano, ou quando apresenta uma grande imaturidade face à sua idade.
 Quais são os resultados obtidos após uma retenção no mesmo nível escolar?
A retenção de uma criança, no mesmo nível escolar, tem como objectivo dar-lhe a possibilidade de desenvolver as capacidades necessárias para a aprendizagem.
No entanto, as investigações realizadas indicam que o facto de a criança ficar retida no mesmo ano lectivo não tem benefícios.
Um dos artigos publicados pela NASP, National Association School Psychologies, refere que:
·         Os resultados académicos das crianças que repetem o ano são inferiores aos resultados obtidos pelas crianças que transitam;
·         Os aspectos negativos, associados à repetição do ano lectivo, desaparecem depois de 2 a 3 anos após a conclusão da repetição do ano;
·         As crianças identificadas com capacidades desajustadas, são as que mais se prejudicam quando repetem o ano.
·         O facto de uma criança repetir o ano, leva ao aumento dos problemas de comportamento;
·         A repetição do ano tem um efeito negativo sobre todas as áreas de aprendizagem (linguagem, leitura e matemática), assim como, de adaptação socio-emocional, ou seja, dificuldades na relação com o grupo de pares, baixa auto-estima e problemas de comportamento.
·         As crianças que ficam retidas no mesmo ano, quando comparadas com as que transitam, têm mais probabilidades de abandonar a escola precocemente. A repetição do ano é considerada como um dos factores preditivos mais fortes, relacionados com o abandono da escola, no nível secundário.
·         Os estudantes que repetem o ano têm mais probabilidades de obter resultados negativos, quer ao nível escolar e profissional, durante as ultimas etapas da adolescência e no princípio da vida adulta;
·         É possível que a não retenção no mesmo ano lectivo traga mais aspectos positivos, quando os alunos não são simplesmente retidos no mesmo ano, mas quando ao passar de ano lhes são dadas recomendações específicas para solucionar os seus problemas, quer ao nível dos resultados académicos, do comportamento e das relações sociais.

As crianças com dificuldades de aprendizagem
Muitas das crianças com dificuldades de aprendizagem, encontram um obstáculo perante a realização dos testes de avaliação, pois estes requerem dos alunos uma concentração prolongada, que trabalhem de forma independente e dentro de um limite específico de tempo. Uma outra dificuldade encontrada por estes alunos, é a questão do entendimento das questões colocadas nos testes. Assim, os resultados das provas não revelam aquilo que o aluno sabe, ou pode saber. Quando os resultados dos testes são a única forma de avaliar, os alunos com dificuldade de aprendizagem, ficam em desvantagem.
Mas, como é que podemos saber se a decisão de reter uma criança no mesmo ano é a mais correcta?
Para responder a esta questão devemos analisar as seguintes questões:
·       Em que áreas é que a criança possui mais dificuldades? – leitura, escrita, matemática, ciências, estudo do meio, nas relações sociais ou outras? Tem dificuldades em apenas uma área ou em todas?
·       Existem profissionais competentes que possam ajudar a criança, ao longo do ano lectivo, a colmatar as dificuldades de aprendizagem?
·         O que funcionou bem e ajudou a criança a aprender? O que funcionou mal e não ajudou a criança a aprender?
·         Se a criança repetir o ano, que tipo de apoio terá nas áreas que revela mais dificuldades? Utilizar-se-á um novo método de ensino, materiais diferentes, ou o professor utilizará as mesmas técnicas que o ano anterior? Como vamos saber se a criança ao passar pelo mesmo processo, irá melhorar as suas competências?
·         Que tipo de rendimento académico estamos à espera que a criança obtenha no próximo ano lectivo? Com que tipo de melhorias ficaríamos satisfeitos com a repetição do ano?
·         Estatisticamente a criança poderá alcançar os objectivos requeridos para transitar o ano seguinte? Que tipo de resultados devemos esperar num ano? Serão suficientes para que valha a pena repetir o ano?

Devemos ainda analisar as questões sociais e emocionais:
·         O problema encontra-se no comportamento da criança?
·         Como se sentirá a criança se ficar retida no mesmo ano? Será que ficará motivada e interessada em aprender, ou se sentirá envergonhada?
·         O que acontecerá em relação ao apoio dos amigos e companheiros de turma? Como os afectará a situação da repetição do ano?

Alternativas à retenção da criança
Nos artigos publicados pela NASP, National Association School Psychologies, é sugerido a realização de intervenções específicas que permitam diminuir o risco de os alunos fracassarem.
Algumas questões que devem ser respondidas, para encontrar alternativas:
·         Os pais e professores já tiveram a iniciativa de trabalhar em conjunto com o objectivo de identificar e intervir nas problemáticas a fim de melhorar o desempenho da criança?
·         A criança recebe apoio extra? Têm ajuda individual ou em pequenos grupos que lhe permita adquirir novos conhecimentos e completar as tarefas?
·         Se a criança recebe apoio especial, os objectivos do PEI (Plano Educativo Individual) coincidem com os estabelecidos pela escola que frequenta? Se não, o PEI deverá ser revisto para assim possibilitar a transição do ano.
·         Que tipo de materiais de estudo e métodos são utilizados pelos professores? Será que são indicados para a criança?
·         A criança poderá beneficiar de tutoria e apoio individual?
·         Existem opções disponíveis, tais como escolas de verão, prolongamento do horário escolar?
·         A criança é resistente ao apoio prestado pelos técnicos? Então, é necessário encontrar alternativas, propondo a ajuda de um irmão mais velho ou de outro aluno, de um nível de ensino superior ao seu.
·         A criança participa em actividades extracurriculares, tais como futebol, dança, música, visitas de estudo, entre outras, que lhe permita estar com os amigos e simultaneamente motivá-la a melhorar o seu rendimento escolar?

Panorama Geral 
Antes de tomar a decisão de uma criança ficar retida no mesmo ano escolar, é importante responder às questões anteriores;
É ainda importante que pais e professores, perante esta situação leiam vários artigos sobre o tema, falem com a própria criança, discutam entre todos o assunto em questão.

Qualquer que seja a decisão é imprescindível que pais e professores estejam atentos ao rendimento escolar e ao comportamento da criança, durante o ano lectivo seguinte, possibilitando um diálogo aberto, o que permite acompanhar o processo de aprendizagem da criança nos vários contextos, casa e escola.

                                      

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